A ESCOLÁSTICA
Escolástica
Seguindo-se ao período da escola patrística, a filosofia praticada no seio do cristianismo passou a ser ensinada em escolas, a partir do século IX.
O período conhecido como escolástica perdurou até o fim da idade média e tem seu nome derivado da palavra latina "scholasticus", que significa:
"Aquele que pertence a uma escola".
Utilizou-se da base proposta pela patrística, mas com maior dedicação a atividade especulativa, deixando de lado, em parte, a teologia e dedicando-se a formulação da filosofia cristã.
O filósofo de maior destaque deste período, que promoveu a transição real do plaonismo para uma forma mais sofisticada de filosofia, é Tomás de Aquino. Destacam-se ainda, neste período, Occam, Scoto e Erígena.
O método escolástico consistia em leitura critica de obras selecionadas, aprendendo a apreciar as teorias do autor, por meio do estudo minucioso de seu pensamento e das consequências deste.
Neste processo, como complemento, eram explorados outros documentos ou obras relacionadas com a obra em questão.
A partir da comparação entre o texto da obra e os documentos a ela relacionados, especialmente documentos da igreja e análises de estudiosos anteriores, se produzia as sententiae, curtas sentenças nas quais eram listadas as discordâncias entre fontes diversas, acerca dos temas tratados na obra em estudo.
As setentiae podiam incluir também recortes dos textos originais, para comparação e comentário.
As setentiae serviriam para formular os dois lados da argumentação, buscando um acordo, livre de contradições, acerca do pensamento do autor ou do tema por ele discutido. Para tanto valiam-se da análise filológica e da lógica formal.
Na análise filológica procurava-se por palavras que pudessem ter múltiplos significados, ou que o autor pudesse ter utilizado com um significado diferente do usual, o que poderiam resolver questões de discordância imediatamente.
Uma vez compreendido, o melhor possível, o que o autor disse e aquilo que ele significou, procedia-se a análise pela lógica formal, explorando a argumentação em busca das conexões e conclusões, verificando a consistência dos argumentos.
Neste processo, contradições poderiam ser entendidas como subjetivas do indivíduo que lê o texto, mas não presentes no texto em si. Por outro lado, se reconhecida a contradição de fato, a posição seria rejeitada.
O primeiro período, permanece ligado à filosofia de Agostinho e ao platonismo, neste período destaca-se a ausência de distinção entre natural e sobrenatural, a forte prevalência da fé sobre a razão, bem como uma separação ainda não muito clara entre filosofia e teologia, embora esta ultima já comece a se distinguir como disciplina independente no período patrístico.
Com o advento de Tomás de Aquino, Albertus Magnus e outros pensadores mais ligados a filosofia de Aristóteles, a escolástica entra em uma nova fase.
Nesta fase, por volta do século XIII, o uso da razão é enfatizado e amplia-se o uso das novas fontes aristotélicas, uma recuperação das transcrições e traduções dos trabalhos de Aristóteles.
Uma síntese da doutrina cristã e da teoria aristotélica é proposta, vindo a definir o que seria a filosofia da Igreja Católica nos séculos seguintes.
Para Aquino, razão e argumentação eram a base da filosofia, afastando-se do platonismo e agostinianismo que dominavam os primeiros anos da escolástica, na mesma medida em que se aproximava das posições aristotélicas, especialmente sua metafísica e epistemologia.
Dedicou-se particularmente a apontar o que considerou erros de interpretação do comentador Averróis, importante pensador islâmico, permitindo a incorporação da filosofia de Aristóteles.
Após o período dominado pela filosofia de Tomás de Aquino, a escolástica entra em declínio como instituição, mas permanece como campo de estudo, sendo explorada por pensadores contemporâneos como David Oderberg, Giovanni Ventimiglia e Peter King.
Principais representantes
do pensamento escolástico.
O pensador máximo da Escolástica claramente é São Tomas de Aquino, podemos deixar isso em evidencia pelo fato de dividirmos a Escolástica em pré-tomistas e pós-tomistas.
Os principais pré-tomistas são: João Escoto Erígena (que criou uma estrutura quaternária da natureza para provar a existência de Deus) e Santo Ancelmo (este afirmava que se podemos imaginar no nosso intelecto algo perfeito como Deus, isso em si já é prova de que ele exista de fato.
Pensamento muito polêmico e refutado, principalmente por Gaunilode Marmoutiers, este afirmava que se somos capazes de imaginar uma ilha maior do que todas as ilhas, isso não quer dizer que ela necessariamente exista).
O principal Pós-Tomista certamente
foi Guilherme de Ockaham.
Outros nomes da escolástica são: Anselmo de Cantuária, Alberto Magno, Robert Grosseteste, Roger Bacon, Boaventura de Bagnoreggio, Pedro Abelardo, Bernardo de Claraval, João Escoto Erígena, João Duns Escoto, Jean Buridan, Nicole Oresme.
*É importante termos em mente que Santo Agostinho, não fez parte da escola escolástica, como constantemente isso é erroneamente ensinado - Agostinho era por certo o maior nome da escola filosófica Patrística (o qual teve sua existência bem antes do que a escolástica).
Neoescolástica
A neoescolástica é a revitalização e o
desenvolvimento da filosofia escolástica da Idade Média
que ocorreram a partir da segunda metade do século XIX.
Não é só a ressurreição de uma filosofia há muito tempo extinta, mas sim uma regeneração da philosophia perennis ou metafísica, que surgiu na Grécia Antiga e que nunca deixou de existir.
Às vezes, tem sido chamada de "o tomismo neoescolástico", em parte porque foi Tomás de Aquino que deu forma final à escolástica no século XIII, em parte por causa da ideia de que só o tomismo poderia infundir vitalidade na escolástica do século XX.
Na primeira metade do século XX, importantes escolas neotomistas foram criadas, entre as quais estão as de Leuven (Bélgica), Laval (Canadá) e de Washington (EUA).
Também é comum usar o termo "neoescolástica" para qualificar a escola do século XVI, em Salamanca (Francisco de Vitória, Domingo de Soto, Luis de Molina, Francisco Suárez etc.), uma corrente de pensamento de grande influência na história da teologia, filosofia, direito e economia e crucial para a compreensão da cultura espanhola posterior, sendo que inclusive a grande crítica que a Igreja fará do juros se fará a partir de textos de Aristóteles.
É necessário distinguir dois sentidos do termo "neoescolasticismo": a tentativa de reviver a tradição da escolástica medieval e seus conceitos fundamentais e, por outro lado, uma escola de pensamento ligada à Igreja Católica que se propunha a realização de uma nova síntese de fé cristã e de racionalidade moderna.
A esse respeito, o Papa Leão XIII, em sua encíclica Aeterni Patris (1879), afirmou que a doutrina tomista, desenvolvida por Tomás de Aquino, deve ser a base de toda a filosofia que é considerada cristã.
Com ela, o Papa deu o apoio incondicional da Igreja Católica para o tomismo, promovendo o aparecimento de neoescolástica. Essa encíclica foi parte do movimento realizado pelo Vaticano que abordou os problemas de seu tempo em muitas áreas.
Foi colocada, então, a necessidade de construir uma nova filosofia cristã, pretendendo-se retornar à velha filosofia escolástica. Assim, a neoescolástica tentou resgatar o valor da objetividade contra o relativismo, destacando o valor do realismo contra o idealismo e promover o valor do personalismo.
Corrente Tradicional...
Os representantes desse movimento não pretenderam enriquecer a doutrina tomista, mas mostrar aquilo que é eternamente durável em metafísica.
Assim, adotaram uma atitude defensiva e desafiante contra os "erros" da modernidade, contra a qual o tomismo ergueu um infalível bastião. A maioria das obras desse fluxo são escritas em latim, como é o caso de:
1- Tommaso Maria Zigliara (1833-1893), autor italiano de Summa philosophica, em 3 volumes. O Papa Leão XIII nomeou-o cardeal e presidente da Academy of St. Thomas;
2- Albert Farges, autor de Estudos filosóficos, em 9 volumes e um curso de filosofia, adotado como livro-texto para muitos seminários;
3- Reginald Garrigou-Lagrange (1877-1964), autor de Uma síntese tomista e Deus;
4- O cardeal Louis Billot (1846-1931), cujo retorno ao St. Thomas manifestou a sua independência em face de Francisco Suárez (que tem grande influência sobre a neoescolástica alemã).
Corrente Progressista...
Essa corrente não se contenta em restaurar as antigas doutrinas tomistas, mas tenta incorporar todo o lado bom do pensamento moderno. Visa a enriquecer o tomismo, mostrando-se severa contra os "erros" do pensamento moderno.
A figura central dessa corrente é o cardeal Désiré Félicien-François-Joseph Mercier. Muitas escolas afirmam pertencer a essa tendência progressiva.
Escolas...
Histórica
A escola histórica do tomismo foi aplicada ao estudo da filosofia medieval e contribuiu para redescobri-la usando os métodos de crítica moderna:
1- Na Bélgica: Maurice De Wulf;
2- Na Alemanha: Martin Grabmann;
3- Na França: Pierre Mandonnet, fundador da Bibliothèque thomiste, Étienne Gilson e Marie-Dominique Chenu;
4- Em Espanha: Miguel Asin Palacios, autor de Estudos comparativos de espiritualidades cristãs e muçulmanas.
Progressista...
A escola tem como objetivo enriquecer e renovar o tomismo progressiva. O pensamento escolástico se expandiu em todas as áreas, da política à metafísica, da epistemologia à moral.
O principal representante francês dessa tendência, assim como Antonin Sertillanges, é Jacques Maritain. Ele também destaca o cardeal Joseph Désiré-Félicien-François Mercier, fundador do Instituto Superior de Filosofia da Universidade Católica de Leuven, onde ensinou Joseph Maréchal.
Finalmente, a neoescolástica italiana da Escola de Milão, fundada por Agostino Gemelli, fundador da Revue de filosofia escolástica. Enfrentaram o positivismo científico e o idealismo hegeliano de Benedetto Croce e Giovanni Gentile.
Atualmente, o trabalho dessa escola é centrado em torno das ligações entre tomismo e as tendências atuais, como a fenomenologia, particularmente a obra de Emmanuel Falque
.
Elementos tradicionais...
A neoescolástica procura restaurar as doutrinas orgânicas fundamentais consagradas na escolástica do século XIII.
Ela argumenta que a filosofia não varia de acordo com cada fase da história e que, se os grandes pensadores medievais (Tomás de Aquino, Boaventura e João Duns Escoto) conseguiram construir um sistema filosófico sólido sobre as informações fornecidas pelos gregos, especialmente Aristóteles, deve ser possível elevar o espírito da verdade que contém a especulação da Idade Média.
Visões externas
Émile Boutroux pensou que o sistema aristotélico poderia servir como uma compensação ao kantismo. Paulsen e Rudolf Christoph Friedrich declararam a neoescolástica como o rival do kantismo e afirmaram o conflito entre eles como o "choque de dois mundos". Adolf von Harnack, Seeberg e outros argumentaram contra subestimar o valor da doutrina escolástica.
No final do século XIX, a neoescolástica ganhou terreno entre os católicos contra outros pontos de vista, como o tradicionalismo, o ontologismo, o dualismo de Anton Günther e o pensamento cartesiano. Foi aprovada em quatro congressos católicos: Paris (1891), Bruxelas (1895), Freiburg (1897) e Munique (1900).
ALGUMAS CITAÇÕES :
"Dê-me, Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter, método e faculdade para aprender, sutileza para interpretar, graça e abundância para falar, acerto ao começar, direção ao progredir e perfeição ao concluir...
São Tomás de Aquino
"A humildade é o primeiro degrau
para a sabedoria".